quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Coisas que eu vi...


Texto extraído do projeto da ABERJE aqui


A comunicação organizacional frente ao seu tempo


Há quarenta anos, em alguns cursos da ABERJE discutia-se
a gramatura do papel. Hoje, o que está em jogo é o
nosso papel na “dramatura” do mundo. A formação do bom
profissional que conhece seus métodos, suas técnicas, foi
um grande êxito nosso. Nunca houve profissionais de tanta
qualidade, nem tanto avanço técnico. Mas o tempo presente
nos trouxe questões éticas que não podemos ignorar e que
nos interpelam como seres humanos. No drama de nossos
dias, que papel nós, comunicadores, vamos assumir, uma
vez que somos profissionais capacitados ao mesmo tempo
em que simples seres humanos, diante dos grandes desafios
sociais, econômicos e ambientais, que são a miséria e o aquecimento
global?
Há poucas décadas, vivíamos o temor da guerra nuclear.
Nosso planeta poderia acabar, se fosse apertado um simples
botão. Mas isso não aconteceu; ninguém apertou a tecla fatal.
Hoje, vivemos o efeito estufa. Se não forem tomadas medidas
urgentes, perderemos nossas praias, algumas de nossas cidades
mais belas, países, a Amazônia, muito da vida como hoje existe.
A guerra nuclear, para acontecer, precisava de alguém que
acionasse o botão. O aquecimento global, para gerar uma
catástrofe, precisa do contrário: que não se faça nada. Por
isso, se queremos nos salvar, precisamos agir, e logo. O século
XXI começa com essa ameaça terrível da devastação
planetária, a exigir de nós uma posição fortemente ativa, uma
enorme mudança de rumo nos valores e nas ações. Vivemos
num país injusto, em meio a muitos países injustos e sofridos.
O Brasil tem grande capacidade, pouco utilizada, a começar
pela humana. Nós, comunicadores, saímos da celebração
passiva de nossas riquezas naturais, e começamos a
valorizar o país de novos modos. As florestas intocadas viraram
fornecedoras de biodiversidade. A riqueza natural mais
preciosa já não é a que se esgota, mas a que se renova. Porém,
a injustiça social está se tornando insuportável tanto
aqui como na África, na Ásia, e em países mais desenvolvidos.
O medo do outro cresce. A sensação é de insegurança.
Não há segurança pública, mas insegurança pública. Estamos
à beira de uma guerra de todos contra todos. Escondemonos
em espaços privados. Mas nenhuma civilização sobrevive
se escondendo. Estes dois desafios, a sobrevivência do
planeta e a de nossa sociedade, a salvação da natureza e
do mundo humano, são cruciais. São os principais assuntos
a falar, a comunicar. Como nós faremos nosso trabalho, se
não comunicarmos o essencial, se nos calarmos sobre essas
ameaças? Precisamos falar delas, fortalecer uma consciência
nova, que leve a ações que mudem nossa realidade.
Nunca houve um conflito tão claro, tão límpido, entre
as nossas capacidades – profissionais, intelectuais, talvez
até emocionais – e o mundo que estamos gerando: sujo,
injusto, talvez em agonia. Nunca os comunicadores tiveram
tanta responsabilidade à sua frente. No passado, fomos
questionados. Estaríamos apenas dando belas embalagens a
produtos de má qualidade? Vendendo políticos como salvadores
da pátria? Essa foi e é uma questão ética importante. A
comunicação, inclusive a das organizações, não pode servir
de rótulo para a mentira, a manipulação, a falsidade. Mas
precisamos ir além. Não basta não fazer o errado. Precisamos
fazer o que é certo, mesmo não sabendo ainda, com
segurança, o que é certo. Nosso tempo conhece diferentes
éticas, opções de vida e valores. Temos que respeitar essa
diversidade. Mas, mesmo na diferença, devemos construir
algo em comum: uma sociedade justa, um planeta que se
sustente. Estes valores básicos podem nos ensinar já, pelo
menos o que é errado, o que não devemos fazer.
Valores importantes fazem parte da missão da ABERJE, de
nosso foco como comunicadores de empresas ou instituições.
A preocupação ética se destaca. Salvar o mundo deixou de
ser figura retórica, tornou-se questão premente. A ciência provou
que o aquecimento global nos leva para a catástrofe. Isso
exige um compromisso forte com a verdade. Há conteúdos
importantes a comunicar, para gerar uma consciência do que
é premente fazer.
A inovação é uma característica que faz os dois últimos
séculos serem os mais pujantes da história. Buscou-se a novidade,
a transformação, a invenção, a descoberta. A ciência
avançou mais do que nunca. A medicina de hoje nem se compara
à de duzentos anos atrás. O avanço científico pode ajudar
nossos ideais, a utopia que tivermos, a tornar-se realidade.
O humanismo é uma das mais belas metas que o ser humano
já criou. A Renascença trouxe a convicção de que as ações
das pessoas devem beneficiar, não um grupo de indivíduos,
uma classe ou uma nação, mas a humanidade. Esse valor
se expande em nossos dias. A humanidade é diferenciada,
exige pluralismo. Convivemos com as diferenças melhor do
que qualquer cultura passada. Essa é uma grande conquista,
inédita na história do mundo. Podemos divergir asperamente
na política e nos valores, mas não matamos quem discorda
de nós. Não se enforca mais o opositor do governo, não
se queima a mulher liberada. Este é nosso maior êxito em
termos de civilização. Mas ele vem junto com o caráter predatório
de nosso tempo. Como será possível preservar esse
ganho enorme, que é a liberdade de cada um ser quem é, de
cada um seguir suas crenças, sem dissolver os laços sociais
em milhões de desejos antagônicos, numa busca desenfreada
de mais e mais, o que acaba exaurindo a natureza e esgotando
nossa alma?
Acreditamos que seja possível montar um mundo novo,
um mundo em que predomine o sentimento de responsabilidade
histórica. Podemos unir a técnica e a ética com a estética.
Este é o projeto: construir uma sociedade mais culta, solidária
e sustentável. Achamos que este projeto vale a pena. E
por isso convidamos nossos associados a se unirem a ele.

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