quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Cristão e Gay

Ainda que um pouco distante da convivência com o corpo de Cristo, pelo fato de que a "igreja dessa geração" não compreende o sentido de corpo, SOU cristão.
Muitos homossexuais, ao "sair do armário" se revoltam com seu segmento religioso e toma rumos completamente inversos ao que criam. Eu sou um dos poucos que não mudei minha visão em relação a Deus.
Creio na bíblia, na santa palavra de Deus. E isso não me faz ser o que a "igreja" prega. Sou pecador. E quem não é? Diante de Deus não existe distinção de pecados. Cabe eu decidir o que fazer diante dos meus. Jogar tudo pro alto e dizer "se foda, vou viver a minha vida" ou me humilhar e reconhecer que sou pecador mesmo, mas continuo amando meu Cristo.
Não condeno ninguém pelos seus atos. Se revoltou com a "igreja"? É uma escolha pessoal de cada um, porém eu continuo crendo e sentindo Deus em mim. Mesmo não frequentando tão assiduamente os cultos, não deixo de render graças ao Senhor por todos os benefícios que Ele tem me concedido. Sou GAY e não por isso, deixarei de ser CRISTÃO.



(Texto escrito em 26/fevereiro/2014)

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Descomplique-se

Relacionamentos são complicados. #fato
Dizem que os homens são de Marte e as mulheres são de Vênus. Eu digo que homens são de Marte, de Vênus, de Saturno e se brincar até de Plutão (tão distante, pequeno e frio que foi rebaixado a estrela).
Não sou uma pessoa fácil de se conviver. Quem me conhece a fundo sabe o quanto tem que respirar fundo pra não me mandar à merda ou sinceramente me manda à merda em quase todos os minutos. Não sei se foi minha criação, ou se isso já veio no meu pacote de sobrevivência nesse mundo, mas eu tenho uma "pequena" aptidão em fazer tempestades em copo d'água. Dramático? Não!! Me amostro às vezes (quase sempre). Mas, sei lá! Sou assim e não sei explicar.
Meus sentimentos sempre são "mais fortes", "mais profundos", "mais intensos" que os outros (pelo menos na minha cabeça doentia eu acho) e quando não vejo as pessoas sentindo ou fazendo aquilo que faço, me bate a frustração. Falo isso em todos os meus relacionamentos. Com família, com amigos e com amores. Sou muito paranóico e egoísta. E por ser transparente demais não consigo internar isso em mim. Solto num "emburramento", me afasto, fico triste e melancólico, como estou hoje.
Na maioria das vezes não é culpa de ninguém, sou eu que complico demais as coisas e meus sentimentos entram em curto e só o tempo vai curando. Mas fico me perguntando se poderia ser diferente.
Nesses dias sombrios minha mente voa longe e me deixa dividido e vulnerável demais. Seria bem mais simples se as coisas sempre saíssem do meu jeito. Mas, con'viver' é isso: Se adaptar às diferenças do outro.
"Aaaaai .... se minha mente egoísta me deixasse em paz"
Mas seria apenas egoísmo, fruto da minha imaginação ou tudo que se passa aqui dentro da minha cabeça tem um fundo de verdade?
Só sei de uma coisa: ignorar o fator de estar assim é sempre pior!



(Texto escrito em 23/fevereiro/2014)

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Eu me aceito

Aceitação! Sofri muito antes de conhecer, entender e tomar apoderamento dessa palavra! 
O pior preconceito é aquele que nasce dentro da gente. Quando nos olhamos no espelho e não aceitamos quem somos. 
Vivi anos enganando a si mesmo, me escondendo. Tolo e inocente, me achando "o sabido", pensei que poderia dominar minhas emoções. Idiota, fui vivendo meus dias não me aceitando e a cada minuto que se passava era um passo para a solidão, para a perca de quem eu era, para um abismo de ignorância religiosa e profunda intolerância de si mesmo. Isso me submergiu, me transtornou, me devastou, até o dia em que eu não aguentei mais e disse: “Basta, eu me aceito.”


(Texto escrito em 21/fevereiro/2014)

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Saudade

Casa arrumada, cheiro de comida gostosa na cozinha, zoada, bagunça, conversas intermináveis, risos soltos, arengas, reconciliações ... Geralmente é sempre assim quando a gente se reuni em família nos finais de semana. Dizem que encontro de família é sempre bom, mas passou de oito horas seguidas juntos, pode ter certeza que sai confusão.
Interessante como um simples ato tão corrente, simples e singelo na vida de tantos faz uma falta enorme na vida de outros. Desde que me me assumi como homossexual meus encontros em família tem sido tensos e em muitos casos, nem existido. Depois que sai de casa a situação piorou relativamente. Minha avó materna, que me criou como uma mãe, ainda não veio aqui em casa, minha tia e mãe vivem arrumando desculpas e minha convivência com a família do meu pai, que já não era tão regular, se tornou inexistente.
Costumava muito ir à minha cidade natal visitar meu pai, meus avós e meus padrinhos. Dia de domingo era aquela alegria. Adorava passar o dia sem fazer nada na casa deles. Contar como estavam as coisas aqui em João Pessoa, escutar minha avó reclamar das chatices do meu avô, ouvir meu pai murmurar sobre o cansaço sem fim dele, almoçar aquela lasanha que só minha madrinha sabe fazer ... Coisas tão bestas que para mim faziam toda a diferença. Vai fazer dois anos que não sei mais o que é isso.
Uns não querem me ver, outros não fazem questão e eu vou deixando as coisas acontecerem e fingindo que não me importo com suas atitudes. Vou empurrando com a barriga. Afinal, eu escolhi seguir caminhos diferentes. Mas mesmo já sabendo das consequências de minhas escolhas, ainda assim é duro suportar a falta que eles fazem em minha vida. Me pergunto sobre o amor. Se existiu na verdade amor. Pois é estranho entender como um sentimento tão puro pôde se transformar em rejeição. Como uma promessa de amor e cuidado pode ser descartada. Até entenderia se minhas escolhas ferissem diretamente esses, mas elas só afetam a mim mesmo. Mesmo sabendo de todo contexto cultural e de idade ainda assim é difícil compreender como alguém que é sangue do meu sangue quebra um pacto e uma promessa desse tipo por egoismo e preconceito.
Deus é testemunha e sabe o quanto não quis que isso acontecesse. Queria muito compartilhar da minha felicidade com eles, mas entre ser hoje completo, sendo quem sou e me reunir em família como antigamente cheio de máscaras, prefiro sentir na pele o descaso e o repúdio dos tais.



(Texto escrito em 09/fevereiro/2014)

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Meu euzim

Dizem que já nascemos assim, outros dizem que é adquirido, alguns afirmam que é obra "do capeta". Se eu nasci ou adquiri, eu não sei. Mas uma coisa eu garanto: Obra do "coisa ruim"? Ahhh!! Não é não!!
Cresci em Timbaúba, pernambuco. Venho de uma família não muito convencional e por razões que pouco importam no momento, sou filho de pais separados, criado por vó materna, minha voinha. Vivi minha infância e adolescência aprendendo e reforçando meu caráter através da Bíblia. Não me arrependo de nenhum momento que vivi na igreja, pois sei que cada ensinamento ministrado na Adventista da Promessa me adicionou valores que carrego comigo até a morte. Mas confesso que teve momentos que quase enlouqueci. É muito complicado se reconhecer homossexual em um ambiente onde tudo que você é aos olhos dos outros é errado ou demoníaco.
O medo é o maior inimigo do ser humano. Ele nos deixa inertes ao que a vida proporciona. E o meu maior desespero era saber quem eu era e negar isso dentro de mim com medo de mostrar isso as outras pessoas.
Nunca fui muito de curtir coisas de “menino tradicional”. Brincava de bola de gude, pião, pipa, corria atrás de tanajura, mas adorava pular corda, jogar baleado, vôlei, pintura, elástico, e lembro-me que algumas vizinhas se reuniam na frente da minha casa e trocavam papel de carta. Eu achava aquilo incrível, mas quando sonhei em pedir à minha vó para comprar, fui bombardeado com um: “isso não é coisa de menino”. Fui crescendo e sendo formatado a ser aquilo que era certo, o “menino tradicional”.
Sempre fui franzino, magrinho, o mais frágil de qualquer turma e por essa razão, tudo que os meninos da minha idade faziam me trazia medo, pois não queria me machucar. Enquanto eles pulavam, jogavam bola, lutavam entre si, eu me divertia em aventuras com as meninas. Nunca fui de brincar de boneca, aquilo pra mim já era demais. Talvez pensasse assim pelo efeito da formatação que me moldaram. Mas, adorava conversar com elas, brincar com elas, parecia mais fácil, mais acessível. Tive amiguinhos meninos também, carrego algumas dessas amizades até hoje, mas nossa convivência, brincadeiras e interesses sempre foram bem diferentes. Lembro que sempre tentei me enquadrar na turma dos meninos, mas eu sempre me sentia estranho, diferente. Mesmo não entendo o que acontecia, eu já sabia que eu não era igual aos outros meninos.
Abrir hoje a caixa de lembranças da minha infância me tira sorrisos e certezas de que “estava na cara” de que eu não iria ser um “menino tradicional”. 

(Texto escrito em 8/fevereiro/2014)